sábado, 26 de agosto de 2023

Em casa com os Gil

Por total influência dos meus pais, tenho um gosto musical que considero, sem nenhuma modéstia, maravilhoso! Cresci ouvindo Caetano, Milton, Gil, Rita, Elis, entre outros diamantes do mais puro suco da música popular brasileira. Minha mãe é dona de uma coleção de vinis de matar de amor qualquer amante da boa e velha vitrola. Heeeein? Vitrola! (A galera 35+ vai entender a referência kkk) Aos pouquinhos vou sequestrando alguns discos dela e engordando o meu acervo. 

Eu ainda não tinha escutado o "Em casa com os Gil", álbum lançado em junho do ano passado em comemoração aos 80 anos do Gil, com participação de vários membros da família - e que família! Mas desde que dei o play essa semana, tenho ouvido em looping. E é impossível não lembrar dos meus pais em várias das músicas!

Lembro da minha mãe me contando, quando eu ainda era criança, que Gil fez a música Drão pra Sandra, sua esposa na época. E a versão nesse álbum, em que ele canta com a Preta, filha dos dois, é simplesmente maravilhosa!

Drão
O amor da gente é como um grão

Morre, nasce trigo
Vive, morre pão

Lembro também dela falando de várias músicas que essa galera escreveu quando estava exilada, na época da ditadura. E quando ouvi Back in Bahia, que eu não me lembrava de já conhecer, me apaixonei! É uma música que Gil escreveu em Londres e que, apesar de falar da sua saudade da Bahia nessa época do exílio, é uma música linda, com uma letra maravilhosa e um ritmo contagiante. 

Hoje eu me sinto
Como se ter ido 
Fosse necessário para voltar
Tanto mais vivo!

E é impossível não pensar no quanto meu pai teria amado esse álbum! E em todos os comentários que faríamos juntos, assim como fizemos sobre o álbum Ofertório, do Caeatano com os filhos. Tenho certeza que ele acharia a letra da música Sereno super divertida, e que ia amar essa versão de Barato Total. E eu ia comentar a lindeza que é Queremos Saber na voz de Fran, e que eu amei o backing vocal de Esotérico. Ah pai, sinto tanta falta das conversas que tivemos, mas mais ainda de todas aquelas que nunca iremos ter. 

Não adianta nem me abandonar
(Não adianta não!)
Porque mistério sempre há de pintar por aí

Para muito além do gosto musical, tenho tanto dos meus pais em mim! Eles são meus maiores exemplos e referência, de valores, de vida e até esse meu jeitinho metade fofa, metade brava (kkkkrying), é herança deles. Assim como podemos perceber nesse álbum do Gil, as relações familiares são parte do que somos e uma das coisas mais importantes nessa vida. Que privilégio ter pais que são amigos, eu honro e agradeço todos os dias pela família maravilhosa em que nasci e cresci.

Quando a gente tá contente
Nem pensar que está contente a gente quer
Nem pensar a gente quer
A gente quer é viver!

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Um date comigo mesma

Hoje é sexta feira e o Léo, meu marido, não está em casa. Há tempos ele precisa fazer uma polissonografia, aquele exame para investigar o sono e, como é necessário dormir na clínica, ele preferiu não marcar em dia de semana. Então, marcou para hoje. E eu, que sou a pessoa que tem fogo na bunda infinito, já pensei logo em mil possibilidades. 

Nada muito radical, porque apesar de sagitariana rolezeira, estou velha (de idade e de espírito), é verdade. Mas pensei em chamar alguém pra jantar aqui em casa, me convidar pra ir na casa da minha irmã ou da minha prima, que acabaram de se mudar. Até cogitei o convite de um amigo para um barzinho, mas logo desisti. Não quis programar nada - missão quase impossível para a pessoa que já tem planejado todos os rolês dos próximos finais de semana por, pelo menos, um mês. 

Depois, pensei em aproveitar esse tempo para dar uma limpa na casa, separar umas coisas para doação, já que estou prestes a começar uma reforma e quero me despegar de algumas coisas. Mas pensei melhor e abortei a missão. Posso fazer isso em outro momento. Hoje, vou ter um date comigo mesma! 

Cheguei, tomei um banho demorado, coloquei meu pijama quentinho, abri uma garrafa de vinho. Acendi umas velas, fiz minha clássica tábua de petiscos. Fiz carinho nas minhas gatas. Coloquei "engenheiros" pra tocar na vitrola (sim, sou vintage!) e dancei "o papa é pop" no último volume, sozinha no meio da sala. 

"Todo mundo tá relendo o que nunca foi lido 
Todo mundo tá comprando os mais vendidos
É qualquer nota, qualquer notícia
Páginas em branco, fotos coloridas
Qualquer nova, qualquer notícia
Qualquer coisa que se mova é um alvo
E ninguém tá salvo"

Depois abaixei o som porque o barulho me incomoda. A juventude indo embora cada dia mais um pouquinho. Peguei meu livro, papel e caneta e comecei a refletir sobre isso, tive vontade de escrever. 

Em que momento deixamos de apreciar nossa própria companhia? Ficarmos sozinhos com nós mesmos, com nossos próprios pensamentos, sentimentos? Por que assusta tanto? Qual foi a última vez que você fez isso? Por que confundimos solitude com solidão? A solidão é um sentimento de vazio, é o desejo de ter a companhia das pessoas. Já a solitude, é um estado de isolamento voluntário e positivo, e eu amo! 

Ainda são 21h. Pode ser que eu dure até tarde com minha garrafa de vinho ou, talvez (e muito provavelmente), eu durma às 22h, já que a semana de trabalho foi intensa e minha cama está a 10 passos de mim. Tenho um infinito de possibilidades no melhor lugar e na melhor companhia do mundo: a minha própria! 

Agora é o Lulu Santos que me faz companhia na vitrola.

"Eu não sei viver sem ter carinho
É a minha condição
Eu não sei viver triste e sozinho
É a minha condição"

Ainda bem que para isso não preciso de ninguém além de mim! Sextou!

domingo, 21 de maio de 2023

Resoluções de ano velho

É, minha gente! Piscamos e estamos no final de maio. Logo já estaremos no meio do ano, comendo canjica e dançando quadrilha. Dá para acreditar? Parece que foi ontem que 2023 começou. Eu sempre achei o maior papo de velho essa história de que o tempo voa. Hoje, apesar de concordar (talvez porque eu esteja velha, rs), acho que, mais do que coisa de gente velha, é coisa de gente corrida. A gente cresce e acumula responsabilidades, trabalho, demandas, vive uma vida tão frenética que, quando percebemos, passou o dia, a semana, o mês, o ano. Olha para o lado e me diz, você conhece alguém que não está vivendo assim?

Sei – hoje mais do que nunca – o quanto é difícil fugir disso. Vivemos num mundo capitalista, precisamos trabalhar, essa é a vida! Mas também precisamos alimentar nossa alma com as coisas que gostamos, que realmente fazem sentido. Eu trabalho muito, vivo correndo, mas minhas 2 horas de almoço são sagradas. É durante esse tempo que consigo fazer meu exercício físico 3 vezes por semana, minha terapia uma vez na semana, e ainda sobra um dia pra ir almoçar com as minhas tias avós em Volta Redonda. Passo o dia sentada em um escritório, mas, quando desço para a loja no final da tarde e me deparo com aquele céu laranja de outono, não consigo não me encantar e dizer: “gente, o céu está liiindo!”. Todo-santo-dia, rs!

Ontem, depois de mais de dois anos sem entrar aqui, vim dar uma olhada no blog. Fiquei encarando essa página, pensando no quanto escrever sempre me fez bem, desde que me entendo por gente. Eu era a criança que, antes mesmo de ser alfabetizada, já tinha diário! Sempre gostei de escrever cartas, textos, até que a vida adulta chegou, me atropelou e me bloqueou para isso. Quando decidi criar esse blog, em uma das inúmeras tentativas de resgatar essa minha paixão, era início de 2020. Eu não fazia idéia do quanto minha vida iria mudar dali pra frente. E, relendo meu primeiro texto publicado aqui, um trecho me pegou muito.

“Tenho cuidado mais de mim. Da alimentação, das relações, dos pensamentos. Do corpo, da mente e do espírito. Tenho bebido menos, brigado menos, comprado menos. Evitado excessos de todos os tipos. Tenho sentido mais, pensado mais, chorado mais. Voltei a ler, a frequentar o centro. Ainda preciso rezar mais. Estou retomando velhos hábitos, hobbies, resgatando a minha individualidade. Somos seres individuais, únicos. E a minha palavra para esse ano é: equilíbrio.”

Quem é a pessoa que escreveu isso? Meu Deus, parece que foi em outra vida! E posso dizer que, hoje, está tudo ao contrário. Tenho bebido mais, comprado loucamente. Não consigo mais chorar. Rezar, então, nem sei qual foi a última vez. Desequilíbrio total! Me dei conta que nem a minha clássica listinha de resoluções para o ano novo, aquela tradição de final de ano que faço questão de fazer, dessa vez não rolou. É a rotina engolindo a gente. Eu sei (e como sei), que é difícil, que é muita coisa. Mas eu acho que a vida é mesmo esse eterno cabo de guerra. Então faz teus corre, mas também faz uma comida gostosa, faz carinho no gato, lê seu livrinho, olha pro céu. Nossa missão aqui tem que ser mais do que só resolver um monte de problemas!

E já que sou uma otimista convicta (apesar de ranzinza, como atestou meu primo), acho que vou fazer uma lista de resoluções de ano velho. Já estamos em maio, sim, mas ainda temos 7 meses inteirinhos pela frente! Dá tempo de tornar realidade a reforma do meu apartamento, repensar minha relação com o álcool, ver pelo menos um filme por mês, fazer um curso de fotografia que tô paquerando há tempos... até caberia mais algumas coisas, mas acho que, por ora, está de bom tamanho. Ah! E, é claro, voltar a escrever! Minha grande paixão e eterna dificuldade em persistir... Será que dessa vez consigo aparecer mais por aqui?

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Todo excesso esconde uma falta

Semana passada eu comprei dois jogos de lençol, um corretivo, seis livros, onze peças de roupa e de uma coisa eu tenho certeza: eu não tô bem. Por mais que sejam coisas que eu goste e vá usar, eu, que venho há tempos tentando modificar meu comportamento e criar uma relação cada vez mais consciente e minimalista com o consumo, sei que isso não é normal e muito menos saudável. Pelo menos não para mim! Porque se tem uma frase com a qual eu concordo, é essa que diz que todo excesso esconde uma falta.

Uma vez, eu me propus a ficar um ano sem comprar roupas, sapatos e acessórios. No início, minha grande preocupação era de não ter o que usar em alguma situação, mas garanto que isso não aconteceu nenhuma vez. Com a experiência, você acaba ficando mais criativa, pois é obrigada a se virar com o que já tem e, para não enjoar, nem estar sempre com a mesma cara, você aprende a fazer combinações diferentes, que nunca tinha pensado antes. Hoje, quando vou comprar uma peça, sempre me pergunto se, além de ser bonita, ela também é útil, versátil, se combina com outras que eu já tenho no guarda-roupa.

Acabei não cumprindo o desafio até o final, mas consegui durante 6 meses e foi uma experiência muito transformadora para mim. De verdade! Nesse período, eu economizei e consegui comprar alguns utensílios para a minha casa, que eu queria há tempos, mas nunca sobrava dinheiro. Aprendi a valorizar ainda mais as minhas coisas e percebi que eu realmente não precisava de nada além do que já tinha. Isso já faz mais de um ano e acho que desde então não comprei mais nenhum sapato! Hoje, penso muito antes de adquirir algo novo! Eu realmente preciso disso? Eu quero muito? Eu posso pagar?

Claro que consumo nem sempre é só sobre necessidade, muitas vezes - na verdade, quase sempre - é sobre desejo, e tudo bem! Comprar é uma delícia mesmo! Mas deve ser consciente. Primeiro porque devemos pensar no nosso planeta, e segundo porque não dá pra usar isso como tentativa de cura, de fuga, até porque não funciona, né?! No final das contas, você ainda estará triste and endividada. Esse papo todo pode parecer muito “white people problem”, e talvez até seja mesmo, mas é só para dizer que, me ver novamente nesse lugar (sim, eu já fui a louca do cartão de crédito sem limites), me preocupa. Não pelo dinheiro, mas pela motivação.

2020 não tem sido fácil. Perdi meu pai, que era meu melhor amigo e o amor da minha vida. Acompanhei de perto todo o seu processo, vivi e senti coisas que só eu sei e que acho que jamais serei capaz de explicar. De um dia para o outro, me vi assumindo uma responsabilidade enorme no meu trabalho e me pergunto todos os dias se sou capaz, se vou sobreviver. Sinto saudades, medo do futuro, preguiça de viver. Tenho milhões de burocracias para resolver, mas, antes, preciso lidar com muitas coisas dentro de mim, fantasmas que me atormentam dia e noite. Nunca pensei que, prestes a fazer trinta e seis anos, estaria muito mais perdida do que aos quinze.

Sim, eu sei que vai passar. O clichê mais verdadeiro do mundo: tudo nessa vida passa! Mas não é da noite para o dia. Minha terapia está em dia, minhas orações também. Choro todo dia um pouquinho pra aliviar a(s) dor(es). E sei que não é comprando que eu vou me curar. Mas, enquanto escrevo esse texto, tenho três abas de pesquisa abertas: um sapato, uma lava louças e um edredom. Até que eu me recupere, alguém pode confiscar meus cartões, por favor?!

terça-feira, 15 de setembro de 2020

E se tudo fosse lindo?

E se tudo fosse lindo? Li essa frase uma vez no Instagram da Marcela Rodrigues, do @anaturalissima, uma página sobre slow beauty e sustentabilidade que adoro e sempre me traz reflexões muito pertinentes. Desde então, vivo me questionando a respeito disso.

Meus primeiros fios brancos começaram a aparecer antes dos 30 e me deixaram louca na época! Eu arrancava todos que via pela frente. Depois de um tempo percebi que, se continuasse, acabaria careca, então parei e comecei a pensar no que faria para disfarçar. Pensei em luzes, mas a verdade é que eu nunca quis ser loira. Pensei em hena, mas, mesmo sendo uma opção mais natural, ficar escrava de tinta não era algo que eu queria. E, nessa de ficar tentando achar uma solução, eu acabei aprendendo a conviver - e a gostar! - dos meus fios brancos. De verdade!

Fui muito inspirada e influenciada por mulheres que sigo, algumas famosas, outras conhecidas minhas, e isso fez toda a diferença. É muito legal a gente se reconhecer em pessoas que a gente gosta e admira. Um dia, vi uma mulher grisalha de uns 50 e poucos anos no mercado e fiz questão de falar que achei seu cabelo lindo! Hoje, vivo totalmente em paz com meus branquinhos, acho até bonitos! Parecem luzes prateadas! Mas ainda fico bastante impressionada com a reação das pessoas. Sempre dão um jeito de tocar no assunto, de perguntar alguma coisa, muitas vezes em tom de crítica. Mesmo pessoas que não tenho intimidade! E sempre respondo que, sim, eu estou envelhecendo e o meu cabelo também! E tá tudo bem, faz parte!

Mas é incrível como o corpo da mulher é assunto de domínio público, né? Porque no homem tudo é aceitável! Homem grisalho é um charme, barriguinha de chopp super ok, “é dos carecas que elas gostam mais” e, se ele está peludo, ninguém se importa, muito menos julga. Mas vai a mulher decidir não pintar o cabelo, não fazer as unhas, não se depilar? O estranhamento é imediato, começando por nós mesmas! A gente fala tanto de se libertar de padrões, mas acho que focamos sempre na questão do corpo, enquanto muitas outras coisas precisam ser olhadas.

Devemos sair desse lugar onde vivemos falando mal de nós mesmas, onde não suportamos ver nossa imagem sem filtros, onde estamos nos tornando todas iguais. Precisamos mesmo ter o mesmo formato de sobrancelha? Precisamos estar toda semana de unhas feitas? Não podemos usar certa roupa porque não deu tempo de depilar? Parafraseando mais uma vez a Marcela: afinal, de onde vem o incômodo? De nós mesmas ou de padrões que nos são impostos o tempo todo, a respeito de tudo?

Não estou aqui para dizer que ninguém deve se cuidar, pelo contrário! Mas acho que autocuidado não é só sobre estética, é sobre olharmos para dentro, é sobre autoconhecimento. Ninguém tem que pintar o cabelo se não quiser, ninguém tem que fazer botox só porque tá todo mundo fazendo, ninguém “tem que” nada! Mas se quiser, tudo bem, meu bem! É sobre a gente saber que tem escolha e entender o quão poderoso isso é! A única coisa que a gente tem é que se sentir bem! Mas tem que ser para a gente, pela gente!

Por aqui, sigo com as unhas por fazer, sobrancelhas ajeitadas por mim mesma sem nenhum design, olheiras que nem o corretivo consegue mais esconder, rugas de preocupação e cada dia mais grisalha. E se tudo fosse lindo? Bem, quando olho no espelho e vejo uma mulher única, que carrega as dores e delícias de ser quem é, entendo que todas as marcas que meu corpo carrega são partes da minha história e, sim, tenho certeza de que são lindas!

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Quem sabe isso quer dizer amor

Todo mundo lembra de você quando toca essa música, que você tanto adorava! Mas só nós sabemos o quanto ela é nossa, né pai?!

Cheguei a tempo de te ver acordar
Eu vim correndo à frente do sol
Abri a porta e antes de entrar
Revi a vida inteira

Eu fui te ver todos os dias enquanto você esteve internado e em todos eles eu te cantei essa canção. Mesmo você estando inconsciente, era minha forma de te mostrar que eu estava ali. Eu conversava, te contava as novidades, mandava os inúmeros beijos e recados dos nossos familiares e amigos (como você é querido!) e só ia embora quando a enfermeira me expulsava. Geralmente, o horário de visita já tinha acabado há muito tempo, mas, se ninguém falasse nada, eu ficava bem quietinha ali aproveitando a sua companhia. E, quando as palavras faltavam, eu simplesmente cantava, mesmo com a voz desafinada e embargada. Era como se passasse um filme na minha cabeça.

Pensei em tudo que é possível falar
Que sirva apenas para nós dois
Sinais de bem, desejos vitais
Pequenos fragmentos de luz


Eu estive ao seu lado em todos os momentos, da descoberta do diagnóstico até a internação na UTI. Foram dois meses intensos, mas digo, sem nenhuma modéstia, que não poderia ter sido outra pessoa além de mim. Acho que você se sentia seguro comigo e penso que, de alguma forma, consegui deixar as coisas mais leves nesse período tão difícil! Lembra de como nos divertimos, apesar de tudo? Jogamos baralho, praticamos yoga, meditamos, lemos, fizemos amizade com os enfermeiros e, na páscoa, você me fez comprar bombom para todos eles! Choramos e sentimos medo, mas também tivemos esperança e rimos, rimos muito! Esse tempo com você foi muito importante para mim, em muitos sentidos.

Falar da cor dos temporais
Do céu azul, das flores de abril
Pensar além do bem e do mal
Lembrar de coisas que ninguém viu


De tudo que puxei de você - pouco fisicamente, muito emocionalmente - o que mais me orgulho é da nossa sensibilidade, do nosso olhar atento e carinhoso para as simplicidades da vida. Com você, aprendi a amar os dias de outono, a observar os pássaros, admirar as flores, respeitar a natureza, valorizar as coisas simples. Por trás de todo aquele mau humor habitual, você era muito sensível. Acho que a vida foi acontecendo e de certa forma te endurecendo, mas, no fundo, você sempre teve um coração simples, bondoso, justo e generoso. Hoje, vejo tanto de você em mim!

Pensei no tempo e era tempo demais
Você olhou sorrindo pra mim
Me acenou um beijo de paz
Virou minha cabeça


Sinto um puta orgulho da relação que construímos, muito além de pai e filha, mas também de amizade, parceria, cumplicidade e cuidado, de ambos os lados. Nós temos algo raro e muito precioso, que é aquela sensação de estar totalmente à vontade na presença um do outro, quando nem o silêncio traz qualquer desconforto. Que saudade de te receber na minha casa, de ouvir você dizer que a minha comida tem um cheiro bom, da sua risada, de aprender palavras novas, das nossas tardes lendo e pegando sol na varanda. Até das nossas conversas no whatsapp, onde eu dizia “te amo” e você respondia “ok”. São tantas as lembranças, pai!

Eu simplesmente não consigo parar
Lá fora o dia já clareou
Mas se você quiser transformar
O ribeirão em braço de mar
 
Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser
E perceber meu coração
Bater mais forte só por você

Tudo aconteceu numa rapidez impressionante! Mas, para quem confia em Deus e na vida, não existe hora errada, as coisas são exatamente como devem ser. Acho, sim, que você deixou esse mundo cedo demais, mas sei que logo estaremos juntos novamente. A vida é um sopro! Foi uma honra ter vivido 35 anos do seu lado. E a sensação de não ter ficado nada por fazer, nada por dizer, junto com a minha crença de que a morte é apenas uma passagem, é algo que me traz muita paz e tranquilidade. Por aqui, ficou uma saudade imensa, mas o alívio de você não ter sofrido é muito maior. Quem ama, liberta! E eu tenho certeza de que agora você está bem.

O mundo lá sempre a rodar
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
Estrada de fazer o sonho acontecer

Te amo muito, pai. Até breve!

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Magreza não é elogio

Nos últimos meses, eu emagreci. Foram os cinco quilos mais fáceis e mais difíceis de perder da minha vida! Mais fáceis porque eu não precisei fazer dieta, e mais difíceis porque emagreci de preocupação. Está certo que eu venho tentando me alimentar de maneira mais saudável desde o início do ano, há 4 meses parei de comer carne, pode ser que tudo isso tenha contribuído também. Mas desconfio que o que realmente me fez perder peso foi a fase difícil pela qual passei.

Eu já falei várias vezes nos meus textos sobre a minha relação com meu corpo. Resumindo: nunca fui magra, sempre tive complexos, hoje em dia me aceito e me amo verdadeiramente, apesar de ainda ter vergonha de usar biquíni – mas uso! Então não vou mentir que, sim, eu gostei de ter emagrecido e estou bem satisfeita com meu corpo agora, mas também não tenho intenção nenhuma de emagrecer mais. Sigo alegre e contente com meus 50 quilos distribuídos em 1,44m e acho que está ótimo assim!

Porque se a gente não se policia, vira uma paranoia mesmo! Nunca está bom, sempre falta perder mais uns quilinhos. Quantas pessoas eu conheço (e muitas delas, magras) que vivem reclamando do próprio corpo, dizendo que estão uma baleia e, gente, não estão! Talvez não estejam como as blogueiras, as atrizes, e provavelmente nunca estarão. E é aí que mora o perigo, tanto de adoecer física e mentalmente, desenvolvendo transtornos alimentares (no Brasil, 4,7% da população tem algum tipo; entre os jovens, o índice pode chegar a espantosos 10%); quanto o de viver uma vida infeliz, tentando se enquadrar num padrão que é inatingível para a maioria de nós.

Esses dias, postei uma foto minha e fiquei impressionada com a quantidade de comentários a respeito do meu peso. Entendam, não é uma reclamação. Pelo contrário! Eu gostei, fez bem pro ego, pois, como já disse, estou feliz com o meu corpo! Mas e se eu não estivesse? E se eu estivesse magra, porém deprimida? Ou, sei lá, estivesse doente? E fiquei refletindo sobre como temos (e me incluo nisso) a mania de relacionar magreza à beleza. E uma coisa não está ligada à outra, nem tampouco magreza quer dizer sinal de saúde.

Na verdade, para mim, beleza está intimamente relacionada à felicidade! Acho que, quando a pessoa está bem consigo, feliz com a vida, isso transparece e a torna linda, independente do seu peso. Vejo movimentos incríveis crescerem e ganharem cada dia mais força nas redes sociais, movimentos que defendem o corpo livre, a pele livre, o amor livre. Porque temos mesmo que ser livres para ser felizes como somos! Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Por isso, acho que precisamos estar vigilantes e temos, sim, que pensar, repensar, refletir, questionar. E mudar!

Por aqui, sigo tentando manter o meu peso, mas comendo meu pãozinho e tomando minha cerveja sempre que sinto vontade. Amo glúten, fazer o que?! E quando alguém diz que eu emagreci, eu apenas concordo. Só abro minha boca para agradecer a quem elogia minhas qualidades, como, por exemplo, uma única amiga que comentou na foto dizendo que eu estava linda – e não magra! Porque magreza não é elogio, ou, pelo menos, não deveria ser.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Equilibrando os pratinhos

Uma das minhas resoluções para esse ano foi a de voltar a escrever. Criei o blog com a intenção de postar duas vezes por semana, toda terça um texto novo, toda quinta um #tbt de algum texto do meu antigo blog em parceria com minhas primas, o Contos de Castro. Assim, eu conseguiria um bom fluxo de publicações e, de quebra, armazenaria todo meu conteúdo em um só lugar. Comecei focada, com vontade de dar uma profissionalizada mesmo, e tudo foi fluindo até que chegou março e, com ele, o início dessa loucura que estamos vivendo. Não dava para pular direto para 2021 não?

Tenho absoluta certeza de que não está fácil para ninguém. Como diz um meme que vi na Internet esses dias, é muito desgastante viver um momento histórico, meu Deus! Mas por aqui, minha gente, o bicho pegou com vontade. Junto com a pandemia, veio a internação da minha avó e uma piora muito grande no seu estado de saúde, a descoberta da doença do meu pai e, apenas dois meses depois, a passagem dele para o plano espiritual. Tudo ao mesmo tempo agora. E aí, faz 4 meses que eu não consigo escrever uma linha sequer.

E não é por falta de assunto, nem de vontade. As inspirações brotam no peito, são tantas coisas que quero falar, tanto que preciso botar pra fora, compartilhar. Mas a rotina me engole ferozmente. Trabalho como uma louca e, mesmo assim, todo dia saio com a impressão de que não fiz nem metade do que deveria. Chego em casa, tomo banho, faço comida, ajeito as coisas e, quando vejo, são dez da noite e eu estou exausta. Já era a inspiração, já era a disposição, já era mais um dia. A sensação de viver no automático é algo que me apavora demais!

Naturalmente, porém de repente, estou assumindo os passos profissionais do meu pai, mas trocar a vida pelo trabalho é a única coisa que não quero herdar dele. Tenho tentado desesperadamente encontrar um equilíbrio, e acho que o que ainda me salva é o meu olhar atento, capaz de enxergar uma flor no meio do asfalto, minha sensibilidade de conseguir ver poesia no dia-a-dia, meu riso frouxo e minha gratidão, que não me permite reclamar de (quase) nada. Por mais rabugento que tenha sido esse texto, reconheço cada privilégio meu, mesmo perdida em meio ao caos.

Tô deixando fluir, vendo no que vai dar, vivendo um dia de cada vez e com a consciência de que, por mais que eu queira, eu não dou conta de tudo. E eu não tenho que dar! Sigo buscando equilíbrio em todas as áreas da minha vida, tentando abrir mão do controle e da necessidade de agradar a todos (difícil pra burro, haja terapia, viu?) e buscando ser comigo o que sou com os outros: carinhosa, justa e dedicada. E é por mim que eu vou voltar a escrever! Mas espero que estejam por aqui para me acompanhar, hihi :)

quinta-feira, 26 de março de 2020

Reparem nas orquídeas!

Como é possível tudo mudar tão rápido? Há um mês, era carnaval! Minha avó estava em casa e eu planejava uma viagem para Portugal. Corona vírus? Na minha cabeça (bem inocente, agora eu vejo) era só mais uma dessas doenças que aparecem do nada, provocam uma histeria coletiva e, depois, igualmente do nada, todo mundo deixa de ouvir falar. Há um mês a gente saía para trabalhar normalmente, o álcool não custava uma pequena fortuna e eu não imaginava que tempos tão difíceis viriam pela frente. Ah, a vida! Essa danadinha que nos prega tantas peças...

A pandemia me provocou diversos sentimentos. Raiva de gente egoísta, que quer estocar comida e material de limpeza. Afinal, esvaziar as prateleiras só faz os preços subirem e, consequentemente, prejudica a todos, mas principalmente as pessoas mais pobres. Legal você ter dinheiro para ficar tranquilo nesse momento, mas precisa ferrar com o outro? E de que adianta você ter todo o estoque de álcool gel do mercado se o seu vizinho não tiver como se proteger? Sem falar no ódio desse (des)governo e a vontade cada vez maior de matar esse pateta que elegeram como presidente. Mas isso não é nem novidade, né? O que foi o pronunciamento dessa semana, gente? Se isso não for uma guerra, eu não sei o que é.

Ainda assim, além e apesar de tudo, me sinto muito grata por todos os meus privilégios. Por poder ficar em casa, com comida na geladeira, pagar as contas, trabalhar de home office. Não tá fácil pra ninguém, é verdade. Eu, por exemplo, estou em São Paulo, num apartamento que não é a minha casa, longe do meu namorado e das minhas gatas, para acompanhar meu pai num tratamento de saúde que vai ser punk! Mas, mesmo assim, estou imensamente feliz por poder estar aqui com ele. Meu jeito de amar é cuidando.

E será que não é justamente a hora de cuidarmos dos afetos? De aproveitarmos esse tempo com nossas famílias, algo tão raro nesses tempos tão corridos. De nos certificarmos que os idosos estão seguros, se precisam de alguma coisa. Será que não é o momento ideal de nos desconectarmos um pouco? Eu rio de todos os memes, mas, sinceramente, não aguento mais falar de corona vírus! Sei de todos os perigos e que cuidados devemos tomar, principalmente porque meu pai está em dois grupos de risco. Mas meu olho revira cada vez que alguém me manda uma dica nova pelo whatsapp! É muita informação! Muita paranoia!

Eu sei que é sempre na boa intenção e entendo a preocupação de todos, mas tenho tentado deixar as coisas mais leves por aqui. Já vamos ter que lidar com momentos tão difíceis! Enquanto aguardamos, vamos fazendo yoga pela manhã, trabalhando como dá, lendo muito, pegando o solzinho da tarde na sacada, fazendo comidas gostosas e sem paranoia de engordar. Já temos muito com o que nos preocupar! É um privilégio para mim poder passar esse tempo com o meu pai.

No dia em que chegamos, precisei ir ao hospital autorizar uns exames. Fotografei uma árvore linda no caminho e postei com a legenda: reparem nas orquídeas! Voltei para casa, fiz todo o ritual de desinfecção, tomei um banho e, quando entrei novamente no Instagram, tinha um monte de comentários: “O que está fazendo em São Paulo? Foi pegar corona vírus? Não está de quarentena? Cuidado!” Nenhum comentário a respeito das flores! Ai, ai...

Como tudo na vida, eu sei que isso também vai passar. Então, que a gente se proteja desse vírus, sim, mas que jamais deixemos de reparar nas orquídeas!

terça-feira, 17 de março de 2020

Natal fora de época

Aos meus fiéis leitores (eu espero que eles existam, haha), peço desculpas. Fiz um blog e já na terceira semana não consegui postar por motivos de: minha vida está uma confusão! Sério, a última semana foi tão tensa que, mesmo que tivesse tido tempo, faltaria psicológico para escrever. Começou com um primo travando a coluna e terminou com um tio levando um tombo, não sem antes lidarmos com uma internação no CTI e um diagnóstico bem difícil. Que fase! De verdade, não sei como sobrevivi e tem horas que acho que estou dentro de um filme.

No auge da exaustão física e mental, tenho me alimentado mal, chorado todas as noites (e às vezes durante o dia também), meu serviço está todo atrasado e mal consigo me concentrar. Mas, assim como tudo na vida, eu sei que vai passar. Assim como muitas “Marias”, também possuo a estranha mania de ter fé na vida. E acho que é isso que não me deixa surtar! Na verdade, esses momentos mais conturbados sempre me fazem refletir muito. Reconhecer meus privilégios, repensar o que realmente desejo, ter certeza de que saúde e amor é o que realmente vale! Minha vida está uma bagunça, eu estou morrendo de medo, mas quem não está?

Sábado, esperando meu pai fazer um exame, tinha uma criança de uns três anos na sala de espera. Eu estava lendo e ele correndo, falando alto, enfim, sendo criança! A mãe a toda hora chamava sua atenção, visivelmente preocupada que ele estivesse incomodando. Em vez de ficar irritada, fechei o livro e sorri. Ele chegou perto, perguntou meu nome e começamos a conversar. No meio da conversa, quando ele me deu uma resposta esperta, a mãe me disse: “quando eu estava grávida, o médico queria que eu abortasse, disse que ele não tinha cérebro”. Bem, ele tinha algumas deficiências, sim, era visível, mas claramente não era anencéfalo! E eu fiquei viajando em como cada pessoa é um mundo de histórias, de sentimentos. Em como realmente todo mundo está enfrentando uma batalha individual que não sabemos nada a respeito! E fiquei feliz por ter sido gentil com eles.

Meu pai saiu do exame grogue, quase me matou de rir e, à noite, fomos encontrar nossa família, que, por conta da internação da minha avó, estava quase toda na cidade. Comemos, bebemos, rezamos, rimos e, apesar de toda a preocupação, nos divertimos muito, como sempre é quando estamos juntos. Fizemos um Natal fora de época! Sem Papai Noel, amigo-oculto e presentes, mas com presença, cuidado, amor e esperança: tudo vai ficar bem! Seguimos juntos. Ainda bem que a gente se tem!

“Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte
Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte
E tenho comigo pensado, Deus é brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro”

terça-feira, 3 de março de 2020

Meu corpo, minhas regras

Ah, a sinceridade dos idosos! Ano passado eu estava na casa dos meus avós, batendo um papo de boa na sala, quando de repente meu avô lança: “Marina, vou te falar uma coisa, mas não fica brava comigo. Você está engordando muito, cuidado!” Desse jeitinho mesmo, bem delicado! Hahaha! Fiquei tão sem reação, que nem lembro o que respondi. A vontade foi de dizer: “vô, cadê o filtro?”, mas provavelmente eu ri e agradeci pelo “conselho”.

Não fiquei chateada, primeiro porque acho que realmente a idade aflora uma “sinceridade sem filtro” nos idosos e, segundo – e principalmente, porque estou bem com o meu corpo. Mesmo! Mas acho curioso esse preconceito disfarçado de preocupação que, em geral, as pessoas têm. Como aquele parente que te vê uma vez por ano e sempre pergunta se você está frequentando a academia. Amor, pergunta se eu estou feliz, pra onde será minha próxima viagem, se eu estou saudável. Mas que diferença faz pra você se minha bunda está dura ou não? E por que diabos o meu corpo incomoda você?

Outro dia, minha irmã mais nova me disse que a meta de autoestima dela sou eu, e eu fiquei tão orgulhosa de mim quanto preocupada com ela. Minha irmã tem 19 anos, é linda, magra, inteligente e tem um cabelo loiro e liso até a cintura! Ou seja, totalmente dentro dos padrões. Eu tenho 35 anos, menos de um metro e meio, mais de cinquenta quilos e uma barriga que parece ter saído direto de uma pintura barroca. Padrão zero! Mas hoje sei que autoestima tem muito mais a ver com se conhecer, se aceitar e se transformar de dentro para fora, do que com a aparência física em si. E acho que isso a gente aprende com o tempo, um pouquinho de esforço e muita autogentileza (e não se comparando com os outros em página do Instagram)!

E quando eu digo que estou bem com o meu corpo, não quer dizer que eu o ache lindo, que não mudaria nada e nem que eu me sinta bem o tempo todo. Eu já tive muitos complexos e ainda estou sempre querendo emagrecer cinco quilos. Mas, hoje em dia, eu me questiono: por que eu quero emagrecer? Meus exames estão ok, eu me olho no espelho e me acho bonita, porque, afinal, eu quero emagrecer? Porque eu não estou me sentindo bem ou porque quero pertencer a um padrão?

Todos os anos eu faço minha lista de resoluções de ano novo, e esse foi o primeiro em muitos que não coloquei como meta “emagrecer”. Me comprometi a cuidar mais da alimentação, da minha saúde física e mental e a me exercitar (porque meu corpo e minha mente estão implorando por isso). Mas quando o foco é realmente a saúde e não a estética, parece que tudo fica mais fácil e leve, porque é uma escolha e não uma imposição. Quero cuidar do meu corpo porque ele é minha casa, meu templo.

Sábado voltei na casa dos meus avós e aí foi a vez da minha avó disparar: “o almoço está mais gostoso hoje por causa da sua presença. Vou até comer duas vezes e ficar gordinha que nem você!” É, minha gente… Haja autoestima para tanta sinceridade!

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

A caminhada

Dia desses, numa página que gosto muito, li algo sobre a teoria dos setênios. Parte de um conceito maior, chamado Antroposofia, idealizada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, essa teoria diz que nossa vida é dividida em ciclos de sete anos. Já tinha ouvido falar de Steiner quando frequentei alguns encontros de comunicação-não-violenta e sei também que ele é o criador da pedagogia Waldorf, que acho incrível, mas não conhecia essa teoria em especial. E fiquei muito surpresa quando fui pesquisar, pois me identifiquei completamente com uma das fases descritas por ela.

Segundo a teoria, acabo de entrar no sexto setênio, que vai dos 35 aos 42 anos. “Nessa fase da vida, há um grande desejo de liberdade e autenticidade em relação a si mesmo e às próprias escolhas. Cresce uma necessidade de viver de forma coerente com o que se acredita. Questões existenciais começam a ficar mais intensas, pois após passarmos por algumas fases com mais foco no externo e no Ter, nosso Ser pede por mais espaço dentro de nós, para nos guiar até o nosso propósito. Sim, é a nossa essência pulsando, querendo buscar o que realmente faz sentido.” E, realmente, nunca algo fez tanto sentido!

Tenho vivido uma fase muito confusa, questionando escolhas antigas e pensando se realmente minha vida está como eu quero, ou se estou apenas vivendo a vida que querem para mim. Tenho sentido um desejo profundo de mudança, mas não sei como e nem por onde começar. Só sei que esse desejo está cada dia mais latente! Como se eu mesma não coubesse mais em mim. Como se eu precisasse tomar as rédeas da minha própria vida. Ao mesmo tempo, sou grata por tudo que já conquistei até aqui. E, apesar de estar perdida, tenho a impressão que o caminho é um só: o autoconhecimento.

Tenho cuidado mais de mim. Da alimentação, das relações, dos pensamentos. Do corpo, da mente e do espírito. Tenho bebido menos, brigado menos, comprado menos. Evitado excessos de todos os tipos. Tenho sentido mais, pensado mais, chorado mais. Voltei a ler, a frequentar o centro. Ainda preciso rezar mais. Estou retomando velhos hábitos, hobbies, resgatando a minha individualidade. Somos seres individuais, únicos. E a minha palavra para esse ano é: equilíbrio. 

Escrevo para me salvar. Para não enlouquecer, para me redescobrir e me reconectar com quem realmente sou. Me afastei demais de mim nos últimos tempos. Preciso me resgatar, me reencontrar! Ainda estou aqui.


Os anseios da alma estão brotando

As ações da vontade estão se realizando

Os frutos da vida estão amadurecendo.

Sinto o meu destino,

meu destino vem ao meu encontro

Sinto minha estrela,

minha estrela vem ao meu encontro

Sinto minhas metas de vida,

minhas metas de vida estão vindo ao meu encontro.

Minha alma e o grande mundo formam um único todo.

A vida torna-se mais radiante ao meu redor.

A vida torna-se mais árdua para mim.

A vida torna-se mais abundante em mim.

Rudolf Steiner.